Histórias de Moradores de JequiéEsta página em parceria com o Museu da Pessoa é dedicada a compartilhar histórias e depoimentos dos Moradores da cidade. Cada dia era uma fuga diferente, cada dia nós tinhamos que ficar preparado pra correr Sinopse: Nome é Jerlane Santos Matos Brito. Eu nasci em Jequié, Bahia, e nasci no dia nove do cinco de 1992. Meu pai era pedreiro, é até hoje, e minha mãe ela trabalhava em casa de família, em Jequié. Meu pai jogava capoeira. Agora ele é evangélico, é pastor, mas antes ele jogava capoeira. Ele gostava, ele tinha uma academia de capoeira lá e ele era mestre. Ele na verdade ele era professor, aí ele ganhou do mestre dele. Teve um torneio, com todos os melhores professores da cidade de Jequié. Cada um lutando com o outro, pra os que ia ganhando ficar pra jogar com o chefe de todos. Eu me lembro ele contando que ele lutou com o chefe. Quando o chefe dele tava perdendo, de raiva ele mordeu a coxa do meu pai, arrancou um pedaço. Ele tem uma cicatriz até hoje. Saiu no jornal, revista lá da época. Uma história que ele conta pra nós. Depois disso aí ele se casou com minha mãe, começou a ir pra igreja evangélica. Minha mãe já ia pra igreja, depois ele viu que não era isso que ele queria, a capoeira, ele queria servir mais o evangelho. Mas ele ainda chegou a apresentar a capoeira pra minha irmã quando ela nasceu. Mas aí ele pegou e largou a capoeira e veio pra São Paulo. Eu saí de Jequié com quatro anos, vim pra São Paulo. Nós somos em cinco irmãos e um adotivo. Meu pai veio na frente pra trabalhar e minha mãe ficou lá. Em seguida, ele voltou, buscou eu, minha mãe, e meus irmãos. A gente ficou numa casa pequena, tinha três cômodos, morava muita gente. Porque quando nós veio, já tinha antes, uns parentes deles, uns amigos. Não sei se é parente, se é amigos. Eu considero como tia. Veio da Bahia um tempo antes. Então eles alugaram a casa. Foi ficando todo mundo naquela casa. Tinha meu tio, minha tia, dois filhos, meus dois primos, e a mãe da minha tia, cinco. Aí veio meu pai, minha mãe e mais quatro filhos. A gente morava lá e todo dia a gente acordava cinco horas, pegava o ônibus, a gente entrava às sete horas na escola. No começo minha mãe levava nós, aí depois ela começou deixar nós sozinha, porque em seguida ela começou trabalhar no terminal Santo Amaro. Ela trabalhava numa rádio evangélica, mas saiu de lá e começou vender cafezinho no terminal. Fazia o café, colocava nas bolsas térmicas e fazia pão de queijo, misto quente, pão assim com hambúrguer, essas coisas. Nós trabalhou no terminal desde pequeno, e nós já começou trabalhar no terminal, ela começou confiar em soltar nós. Então ela sabia que nós sabia ir e voltar. Aí ela ficava no terminal trabalhando, aí eu e minha irmã ia pra escola e voltava. Aí quando nós voltava, nós ficava no terminal também trabalhando com ela. Quando acabava o café, nós entrava com pururuca [uma espécie de salgado], pipoca nos ônibus. Era camelô, a gente era vendedor ambulante. A gente ficou muitos anos trabalhando como vendedor ambulante. Eu me lembro que eu, minha irmã, aí meu irmão veio da Bahia também, a gente ganhava dez reais por dia pra ajudar minha mãe. Acabava o produto, a gente já ia correndo comprar. Tudo lá perto mesmo de Santo Amaro, que a gente tinha os fornecedores que vendia lá, mais pra marreteiro [vendedor ambulante]. Mas antigamente quando as catraca era fechada, dos terminais, era muito cheio de marreteiro ali, porque eles pagavam. Todo ano eles pagavam uma quantia pro rapa. Lá era liberado pra nós trabalhar e nós fazia uma barraquinha. Aí colocava pururuca, salgados, essas coisas assim, um negocinho com refrigerante. Tem várias histórias, nossa! Teve uma época que depois que abriu as catraca no terminal a gente não podia mais trabalhar lá dentro. Mas mesmo nós trabalhando assim sem poder nós trabalhava. E as vendas caíram bastante porque antes o pessoal entrava por trás, então o dinheiro que era pra pagar o ônibus eles gastavam com nós. Depois que eles tinham que passar pela frente, pagar a condução, então já caiu muito o movimento. E tinha o rapa que chegava com uma perua, sabe essas perua Kombi? Chegava uma na frente com vários homens dentro, vestido com a blusa da mesma cor. Eles vinha com um caminhão e sempre vinham com a polícia também. Aí pegava tudo que você tava vendendo, eles tomava de você e jogava dentro do caminhão. Eles não te prendia, eles não podia te bater, não podia fazer nada, mas eles tinha que tomar os seus produto e levar embora. Aí eu me lembro que era assim: uma pessoa ficava lá de cima do terminal observando. Quando o rapa vinha ele dava aviso pra todo mundo correr, todo mundo se esconder. Eu me lembro que teve um dia que veio o rapa e chegou sem ninguém ter prestado atenção. Ninguém viu, aí ninguém avisou. Na hora que minha tia viu, ela saiu correndo. Eu consegui pegar as minhas coisa, minha banquinha, eu me lembro que algum rapaz tava passando e me ajudou, levou o isopor e eu levei só a caixa com os produtos em cima. Depois que eu saí do terminal com 15 anos, eu não tava mais como marreteira. Eu tava dentro do terminal Santo Amaro, só que trabalhando na Cris Bijou, um box que vendia bijuteria. Aí eu conheci meu marido com 16, quando eu me casei eu comecei trabalhar numa loja de roupa, como vendedora. Eu saí e fui trabalhar na Claro, como atendente, oito meses. Depois saí e não trabalhei mais em nenhum lugar. Me separei, fiquei só em casa cuidando do bebê e eu vendia perfume de perfume. Foi quando minha irmã falou da Nice [da Doceria Diamante] pra mim, pra trabalhar com ela, montar coffee break. Eu sempre ficava na arrumação das mesa, e ela fazia a montagem dos prato. Hoje eu trabalho com ela, trabalho na Berrini, no Espaço Solidário, daí eu conheci o Consulado da Mulher. Lá no espaço eu trabalho mais da administração, mas ajudo montar a salada e os pratos. |
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